sábado, 30 de janeiro de 2016

#1 Primeira de muitas!

Dia 1 de janeiro de 2016. Tava em casa, não sabia o que fazer, me animei pra viajar, joguei algumas coisas na mochila e fui pra rodoviária. Escolhi uma companhia aleatória e tirei a senha, ia demorar e eu resolvi tomar um café. Sentei em uma mesa de uma desconhecida. Comi um salgado que a funcionária escolheu pra mim (todos os salgados custavam o mesmo preço).Voltei para o guichê e a minha senha tinha passado.
 O rapaz me atendeu assim mesmo e eu perguntei qual era o próximo ônibus. Ele perguntou o destino e eu disse que qualquer um servia. O colega dele sugeriu "Quixeramobim" e os dois riram. Daí ele falou "Baturité!"! Aceitei, comprei a passagem e fui direto para o embarque, o ônibus sairia em dez minutos. 

Primeira curiosidade, não tem banheiro no ônibus! A mulher que tá do outro lado do corredor me perguntou se eu sabia onde era Aratuba. Legal, mais uma pessoa que não sabe para onde tá indo!! Mas ela tá indo por outros motivos. Vai encontrar o pai que nunca viu. Ela contou que ele foi embora quando a mãe dela estava grávida de 4 meses! Hoje ela tem 25 anos e pelo pouco que falou, deu pra ver que tem mágoa do pai, e tem suas razões. Não sei se eu iria no lugar dela. Em algumas cidades pequenas o ônibus para parava pegar mais pessoas e para que outras descessem. Em determinada parada parada entrou um cara que devia ter uns 40 anos. Pagou a passagem com uma nota de 50 e pediu desculpas ao cobrador por não poder facilitar o troco. Ele ficou em pé ao lado da minha cadeira durante uns minutos e depois tocou no meu ombro perguntando se podia sentar ao meu lado. Claro que disse que podia, achei a atitude legal. Não tinha ninguém sentado, por que ele perguntaria? "Educação, né? Tem que perguntar antes de sentar ao lado das pessoas", disse o rapaz. Ele me perguntou se eu sabia onde tava e pra onde eu ia. Eu não tinha a mínima ideia de onde tava, daí ele falou, mas eu não lembro. Ele apresentou sintomas de embriaguez, mas eu nem liguei. Preferi não dar muito assunto ao sujeito.  Não é que eu não quisesse interagir com as pessoas, mas se você está num ônibus, não tem como simplesmente ir embora se você não curtir a conversa! Sei lá quanto tempo vai demorar.. 

Ele começou a conversar com a moça que vai encontrar o pai. Com poucos minutos ele tomou a decisão de ir sentar ao lado dela. quando ele se despediu de mim e se levantou, ela me olhou com cara de quem se arrependeu de ter dado assunto. A liberdade é uma coisa muito boa. Não tinha nenhuma programação ou cronograma, não tinha reserva, não sabia como seria, estava sem pressa. Se eu dormisse e passasse da cidade, descia em qualquer outro lugar e me viraria. Cheguei em Baturité! Cidadezinha pequena, desci na pracinha central, encontrei um casal e perguntei onde tinha um hotel, eles indicaram a direção de uma rua e eu achei o hotel em menos de 5 minutos. A moça da recepção era linda, me atendeu super bem. Pediu para que eu esperasse limparem o quarto. Qual é o problema de esperar pra quem não sabe o que vai fazer ainda? Perguntei para a moça da recepção o que tinha de legal para fazer lá, ela me aconselhou a ir para Guaramiranga que é uma cidade bem mais famosa e fica perto. Mas enquanto eu estava esperando, fiz uma pesquisa rápida e tinha uma serra, com cachoeira e etc.

 O hotel era de tijolo, o quarto era pequenininho e bem aconchegante. A parte mais baixa do teto era a minha altura e mais um palmo. Tomei banho e dei uma saidinha. Eram 18:22 quando eu cheguei de volta no hotel. Dei uma voltinha pela cidade e foi uma experiência bem positiva. Saí andando pela rua do hotel, e imaginei que ali seria o centro da cidade. Minha intenção era colher informações sobre turismo na região e comer alguma coisa. No Bar do Chico Macaco fui orientado a procurar o Deivinho, que ficava numa rua ali perto. Quando estava indo para lá, ouvi gritos. Era o filho do Sr Chico Macaco que havia pedindo para eu voltar, Deivinho estava passando por lá. Ele me orientou a ir na estação de trem da cidade, que ficava na mesma rua que eu estava. Agradeci e fui. No caminho, a fome apertou. Vi uma churrascaria e entrei. O garçom me recebeu com um sorriso e apertando a minha mão. Pedi uma cerveja e ele me disse a que estava em promoção no dia. O cara falou comigo sorrindo o tempo todo, trouxe o que eu pedi bem rápido, demonstrando ser uma pessoa bem prestativa. Depois de uns 30 minutos ele estava encerrando o seu expediente, mas antes de ir, ele passou por todas as mesas cumprimentando o cliente com o mesmo sorriso sincero e desejando um Feliz Ano Novo. Atitude que me surpreendeu muito positivamente. Como reconhecimento pelo ótimo atendimento, ofereci uma pequena gorjeta para ele. Recusou dizendo "Só a sua amizade!" mantendo o sorriso, ainda me perguntam porque eu gosto de interior.... Logo depois acabei de comer e beber. Paguei a conta e continuei andando na mesma direção.

 Cheguei na Estação de Trem para saber onde teria que ir no dia seguinte de manhã cedo. Estava fechado, mas tinha uma pracinha ao lado e eu sentei lá uns minutos. Me chamou a atenção uma rodinha de crianças jogando bola na pracinha. Tinha um menininho maior, outro mais gordinho, outro pequenininho, tinha menina, outro garoto de pele mais escura. Estavam todos se divertindo. Não havia direitista, esquerdista, machista, feminista ou qualquer outro “ista”. Me perguntei: “Em que momento da vida as pessoas esquecem a simples arte de conviver em harmonia respeitando o próximo?”. Logo depois voltei para o hotel para dormir um pouco e me recuperar para sair de novo mais tarde.